A nossa instalação em Sagres - Metamorfose

Impermanência – Uma Instalação na Loja do Promontório de Sagres

Marc Parchowarte-instalação, Aves, Natureza, Novas 2 Comentários

Sagres é um lugar de horizontes.
É onde a terra acaba. E onde começa o domínio do vento e do mar. Para lá da falésia, não existe um ponto fixo. Tudo é móvel. Nesse (não-)lugar, o homem não se consegue estabelecer. O território do vento e do mar é, para nós, apenas um lugar de passagem.

Quando fomos convidados a fazer uma peça para ficar na entrada da Loja do Promontório de Sagres, a nova loja da Mapa das Ideias, foi esta condição peculiar de fronteira entre o domínio estável do homem e o aéreo e efémero domínio do vento e do mar que nos inspirou a criar a instalação a que demos o título de Impermanência.

O Marc fechou-se durante alguns dias na Oficina do Erro, e saiu de lá com seis peças, que, em sequência, contam a história da transformação de um cubo – que representa a geometria paradigmática do homem – numa ave marinha (nós gostamos de pensar num albatroz).

Transformação
«Toda a inércia é movimento aprisionado. Apela à inquietação, à revoada, à fuga.»

Durante uma noite, estivemos a montar esta instalação na Loja do Promontório de Sagres. Pretendemos que o cubo ficasse à altura do olhar, e que este fosse guiado para cima – sempre para cima –, acompanhando a transformação do cubo em ave, a sexta peça, a mesma que completa a metamorfose e que se encontra por baixo da clarabóia (luz, imaterialidade, liberdade), a apontar ao visitante o rumo para o interior da loja, mas também para além dela, para o mar aberto, território do incógnito, do bravio, símbolo da liberdade e do instinto, da curiosidade e do sonho.

Algumas Fotos:

Impermanência, Marc Parchow, 2018

Seis peças em contraplacado de bétula, acabamento em massa de juntas e tinta branca

Para lá da falésia, não existe um ponto fixo. Tudo é móvel. Nesse (não-)lugar, o homem não se consegue estabelecer. O domínio do vento e do mar é, para nós, apenas um lugar de passagem.
A peculiar condição de fronteira que Sagres materializa, entre o domínio estável do homem e o aéreo e efémero domínio do vento e do mar, foi o que deu mote às seis peças intituladas Impermanência, que encontram nesta polaridade a sua principal inspiração. Em sequência, elas contam a história da transformação física de um cubo, que representa a geometria paradigmática do homem, numa ave marinha, símbolo do vento e do mar.
O cubo fica à altura do olhar de quem entra e representa a solidez da terra, grave e lenta, o (nosso) mundo conhecido, um território de estabilidade a flutuar no vazio cósmico. Emana dele uma força quieta, contida, que paradoxalmente alerta para um cárcere em potência, para uma energia densa que atrai para a estagnação e onde reina a finitude.
Toda a inércia é movimento aprisionado. Apela à inquietação, à revoada, à fuga. Da geometria finita do cubo emerge uma geografia infinita. A energia do movimento progride numa trajectória de fuga, cujo traçado é descrito por uma espiral metamórfica em seis etapas.
Cada forma nova desenha no espaço as linhas do seu próprio devir. O ciclo de transformações guia o olhar para cima – sempre para cima –, acompanhando o corpo em fuga, a força cega que tem por fito o infinito.
A transformação do cubo inicial em ave – o último corpo que completa a metamorfose e que se encontra por baixo da clarabóia (luz, imaterialidade, liberdade) – aponta ao visitante o rumo para o interior da loja, mas também para além dela, para o mar aberto, território do incógnito, do bravio, símbolo da liberdade e do instinto, da curiosidade e do sonho.

Marc Parchow

Formou-se em Arquitectura de Design pela Faculdade de Arquitectura de Lisboa, pós-graduando-se em Edição – Livros e Novos Suportes Digitais, na Universidade Católica Portuguesa.
Em 2007, co-fundou a editora Qual Albatroz, com José Carlos Dias, na qual, além de editor, é responsável por trabalhos de design gráfico, paginação e ilustração.
Entendendo que, enquanto editor, não se pode demitir do seu papel de educador, promove a mediação da leitura junto da comunidade. Em paralelo, é formador de desenho e divulgador activo de diversos métodos e técnicas artesanais, incluindo a serigrafia, a gravura, a encadernação e o trabalho em madeira, orientando nestas áreas oficinas para diferentes públicos.
O seu ADN criativo encarna numa personalidade de fazedor, o que o leva a ter uma contínua disponibilidade para aprender e para integrar no seu trabalho técnicas e linguagens novas. O seu gosto em sujar as mãos e em sair da zona de conforto levaram-no a fundar a Oficina do Erro, na Fábrica da Pólvora de Barcarena, um espaço de experimentação e partilha, onde tem podido desenvolver projectos em madeira, em serigrafia e noutras vertentes da manualidade.
Os seus trabalhos, que envolvem amiúde madeira, papel e tinta, são a expressão da sua mente curiosa e versátil, e o seu imaginário, fortemente ligado ao universo da ilustração, expressa-se através de um minimalismo formal bem-humorado e muito inspirado nos temas da natureza.

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Comentários 2

  1. Um saber estar e saber fazer que domina o seu quotidiano acompanhado por quem o entende e dá de si para uma realização a dois mais profunda.
    É costume dizer ….”por trás de um grande homem há uma grande mulher”…. na realidade os dois grandes e em sinergia.
    Que encontrem essa harmonia e a transmitam sempre através das suas obras….. bj grande

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